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02/03/11

... Alentejo da minha alma...

Carnaval

Os dias passam idênticos de crer e fazer, entre o trabalho, a taberna e a casa, até que chega o Entrudo e as mulheres, sempre laboriosas, preparam os fritos, o Carnaval das mascaras – embonecam os gaiatos, ensaiam jogos de brincas, enganam os maridos.

Nas vilas e aldeias revivem-se as tradições pagãs – as comadres, os compadres, a serração da velha, os cortejos de carros alegóricos com batalhas de flores anunciando a entrada da primavera.

As mães levavam as filhas aos bailes das sociedades recreativas para lhes arranjarem namorados ou maridos, enquanto os homens tratam dos negócios ou se embebedam para ostentarem com arrogância os sinais de riqueza.

As crianças divertidas cantavam e dançavam de roda nos intervalos das músicas. Pelos cantos viam-se os solteirões afogando as suas mágoas com bebidas.

Os amores clandestinos davam largas aos seus ânimos.

Matança do Porco

... Já com o porco morto, ai está o alguidar de barro, que a mulher mexe o sangue com uma colher de pau e que junta um fio de vinagre. Depois, num banco velho de azinho, com fogo de tojos, tijolos, facas de aço e jorros de água, raspa-se-lhe a pele até ficar branco.

Depois num chambaril ou numa escada de madeira empinada à parede abrem-no a golpes para o limparem das vísceras e tripas. Deixam-no enxugar e, entretanto, já as molejas cheiram a assadas nas brasas vivas da lareira, já se comem pingando no pão mole a gordura gostosa.

As mulheres preparavam o almoço entre a gritaria das crianças. Fígado assado de azeite e vinagre com coentros e alhos migados, sopa de rechina, tudo regado com vinho branco/tinto. À mistura, a comoção enchia os sentimentos e o canto subia nas gargantas em modas e saias.

No outro dia desmanchava-se o bicho, migava-se a carne, salgava-se o toucinho e os ossos, fazia-se a banha e os torremos, preparavam-se os lombos e os presuntos. Dias depois, com a carne magra e entremeada, salpicada de sal, alho e massa de pimentão, faziam-se os enchidos – morcelas, farinheiras, cacholeiras e linguiças, paios finos e grossos, que haviam de curar ao fumeiro.

Meu querido Alentejo...

Nos montados de sobro as negaças chamam os pombos bravos. Os riachos correm entre pedras e saibro, enchem-se de água lamacenta as albufeiras e barragens, cobre-se o Alentejo de um manto de mil flores – a margaça, a giesta, o chupa-mel, os lírios brancos.

Os dias já começaram a crescer e o grande sol quente está de volta a anunciar o cio das fêmeas e machos, a dar cor e sangue aos rostos. Ressuscita nos corpos o saber da criação, o mistério da vida, a emoção do amor, o tempo em que o homem e a mulher se dão sem mágoa, cegos de paixão, ao jogo do prazer.

É o tempo de procissões e festas campesinas vai percorrendo esta ou aquela terra de crentes duvidosos e, em cada vila e aldeia, o fulgor das velas, o rumor dos cânticos, alimentam de mitos ancestrais os secretos desejos desta rude gente.

Cumprida a fé mata-se o borrego, come-se com a família o assado no campo, debaixo dos frescos freixos da ribeira da terra, entre as searas crescidas, ondulantes ao vento. A doçaria da Páscoa faz crescer agua na boca, como que a confirmar a antiga sabedoria das freiras de convento, mestras de regalos.

Depois na tarde solarenga ressoa a música saudosa de velhos acordeões, das vozes ao desafio. Novos e velhos juntavam-se aos pares e, nas eiras abandonadas, no alto dos velhos moinhos ou nas clareiras dos matos, bailavam ao som de melodias populares.

Em MAIO

O tempo aquece, os umbrais dos poços são caiados de branco, os cortiços enchem-se de mel, os pássaros aprendem a voar. Muitos eram os dias em que o almoço na cozinha das casas cheirava a açorda de alho com coentros, ovo cozido e azeitonas de conserva

O pastor, muitas vezes triste, vai afogando as suas magoas com navalhadas de arte um tarro de cortiça, talhando em pau bucho um Cristo tosco, ensaiando decimas, cantes milenares...tudo quando ainda a fome e a sede ainda ameaçavam este povo.

A água vai correndo das fontes muitas delas virgens, regando a terra, onde crescem os frutos das hortas e aparecem sombras frescas.

Muitas vezes perto do pego da ribeira, vê-se o vulto de um pastor que vai dormindo a sesta debaixo de uma figueira carregada de figos roxos. Ouve-se o zumbido das cigarras que lhe vão embalando o sono. A seu lado as cabras novas vão mastigando as folhas verdes do silvado, enquanto ali por perto as abelhas trabalham fazendo o mel e os cães ladram às perdizes.

E o pastor vai sonhando. Uma á guia voa muito alto levando nas suas asas a dor e as lágrimas, trazendo no bico a vida e a esperança.

....É este o Alentejo que eu amo...

PM;CA

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