Março, teatro e primavera
Março
virado de rabo, é pior que o diabo, diz o povo. Mas como isto de diabos,
cada um tem o seu, e alguns têm dois (e também parece que é o povo que diz
isto), não há-de senão haver dedo de diabo nisto.
O
certo é que relançamos a programação dos Ciclos de São Vicente com a exibição de
cinema, com exposições e a sexta sessão dos cruzamentos. E encerramos a primeira
experiência participativa com o modelo de «A galinha da minha vizinha», com um
balanço muito positivo e a promessa de regressar. Em cada caso,
não vá o diabo tecê-las, reinventamos e refazemos, que é como quem diz,
convidamos a participar, a descobrir, a colaborar, a ver, a ler e a
estar.
Em
busca de interstícios, do detalhe oblíquo na espessura da história, procurámos
filmes realizados entre antes e depois da revolução: 1973, 1974, 1975. Alguns
tiveram estreia nesse período, outros mal viram ou foram vistos nas salas. Este
olhar sobre as relações entre história e cinema não busca uma leitura dos modos
de inscrição da história no cinema, com o cinema a ser pano de fundo documental
de episódios, protagonistas ou momentos do processo revolucionário. Propõe-se
antes ver o cinema cuja criação, produção e exibição marca a moldura histórica
da revolução.
Assim, a programação de Março,
Abril e Maio de 2014 dos Outros cinemas exibirá filmes daqueles anos,
numa sequência rotativa, trazendo de cada ano os filmes que a história desses
anos viu, e que muitos de nós lembramos ainda como espectadores, desses anos ou
posteriores. Uns foram fracassos de bilheteira que se tornaram em clássicos,
outros, pelo contrário, tiveram uma popularidade que depois caiu no
esquecimento. Alguns, como por exemplo os filmes portugueses, mal chegaram a ser
vistos nos circuitos comerciais e impunha-se uma sua revisitação, talvez o tema
da nossa próxima temporada. Mas por agora, os filmes que veremos em Março estão
reunidos sob o signo dos interditos, das censuras e dos modos sociais de
vigilância e controlo: a religião, a sexualidade, o corpo, a ideologia, a língua
nos idos de 70, para lembrar os 40 anos da revolução.
Convosco!
lançámos um
desafio a Fernando Mora Ramos para dinamizar um debate sobre essa arte que os
tempos que correm mostram ainda mais difícil e mais transforma em lugar de
resistência. Será com a sua conferência-debate, intitulada «Didascálias para uma
crise» (dia 19), e a leitura, orientada por Luís Varela, de «Um mundo novo, de
acordo, mas quando?», texto que Alain Badiou dedicou a Bertolt Brecht (dia
12), que celebraremos o dia mundial do teatro.
Com a
exposição «O mar, as ondas e o vento», o escultor mostra como trabalha o ferro
em busca de formas e ventos, de ondulações e equilíbrios, de superfícies
materiais e silêncios profundos. As suas peças (vozes, formas, matérias)
habitarão a Igreja de São Vicente entre 19 de Março (dois dias antes da
primavera) e 30 de Abril. Fica o convite feito. Os ciclos são
vossos!
Em março 2014
Igreja de São Vicente
12 de março, 21h
30
Um mundo novo, de acordo, mas
quando?
Luís Varela conduz a leitura de Alain Badiou
| Cruzamentos
#6
19 de março, 18h
(inauguração)
O mar, as ondas e o
vento
exposição de Gonçalo
Jardim
19 de março, 21h
30
Didascálias para uma
crise
conferência-debate com
Fernando Mora Ramos
OUTROS CINEMAS 2014 | para comemorar os 40 anos do 25
de Abril
Cinema na história
18 Março
1974
O enigma de Kasper Hauser, Werner
Herzog
Realizado em 1974 por Werner
Herzog, o filme relata a história de um homem que, criado em isolamento, sem
saber escrever ou falar, é encontrado em Nuremberga, integrado pela aprendizagem
na vida social. Essas aprendizagens são feitas de forma peculiar. E não
resistimos a considerar um efeito de homologia: assim estava Portugal quando a
revolução se fez, assim anda aprendendo a vida comum, a vida europeia, a vida
social?
25 de Março
1975
Saló ou os 120 dias de Sodoma, Pier
Paolo Pasolini
O último filme de Pier Paolo
Pasolini foi recebido com choque e escândalo, ao qual não terá sido alheia a sua
morte e as suas circunstâncias. Em Itália, foi proibido imediatamente e houve
até tentativas de destruição do filme. A Portugal o filme chegou no início de
1976, mas conta-se que terá sido difícil ultrapassar resistências do VI Governo
Provisório, sendo o filme exibido a 1 de Setembro desse ano, no Festival da
Figueira da Foz, já com o I Governo constitucional empossado, no qual era
Secretário de Estado da Cultura David-Mourao Ferreira.
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